Nossa História:


O curso de Audiovisual é um sonho antigo da Faculdade de Artes Comunicação e Letras (FAALC) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – neste sentido, faz-se imprescindível agradecer o trabalho realizado pelas comissões presididas pelos professores Hélio A. G. Souza e Marcos Paulo da Silva. O nascimento do curso em 2019, alimenta uma relação intrínseca com uma demanda social crescente nas últimas décadas em todo o Estado – uma demanda que tem raízes acadêmicas, bem como também mercadológicas.

O Audiovisual é pensado como um curso essencialmente transdisciplinar,  funciona como um vórtice no interior da FAALC e visa, conjugando teoria e prática, formar cinéfilos, profissionais e cidadãos corajosos, colaborativos e conscientes. Fazemos nossas as palavras de Jonas Mekas:


Manifesto anti-100 anos do cinema

Como todos vocês bem sabem, foi Deus quem criou a terra e tudo mais que existe nela. E por um bom tempo ele achou que já estava tudo ótimo. Todos os pintores e poetas e músicos cantaram e celebraram toda a criação e tudo estava certo. Mas não de verdade. Alguma coisa estava faltando ainda. Então 100 anos atrás Deus decidiu criar a câmera filmadora. E assim ele fez. E então ele criou o cineasta e disse, “Agora este é um instrumento chamado câmera filmadora. Vá e filme e celebre a beleza de toda a criação e os sonhos do espírito humano, e se divirta com isso.”

Mas o diabo não gostou daquilo. Então ele botou uma sacola de dinheiro na frente da câmera e disse aos cineastas, “Por que vocês querem celebrar a beleza do mundo e o espírito disso tudo se vocês podem ganhar dinheiro com esse instrumento?” E acredite nisso ou não, todos os cineastas correram atrás do saco de dinheiro. E Deus percebeu que ele havia cometido um erro. Então, uns 25 anos depois, para corrigir esse erro, Deus criou os cineastas vanguardistas independentes e disse, “Aqui está a câmera. Peguem ela e se joguem no mundo e cantem a beleza da criação e se divirtam com isso. Mas vocês terão algumas dificuldade no caminho e vocês nunca vão fazer nenhum dinheiro com esse instrumento.”

Assim disse o Senhor a Viking Eggeling, Germaine Dulac, Jean Epstein, Fernand Leger, Dmitri Kirsanoff, Marcel Duchamp, Hans Richter, Luis Bunuel, Man Ray, Cavalcanti, Jean Cocteau, e Maya Deren, and Sidney Peterson, and Kenneth Anger, Gregory Markopoulos, Stan Brakhage, Marie Menken, Bruce Baillie, Francis Lee, Harry Smith e Jack Smith e Ken Jacobs, Ernie Gehr, Ron Rice, Michael Snow, Joseph Cornell, Peter Kubelka, Hollis Frampton e Barbara Rubin, Paul Sharits, Robert Beavers, Christopher McLaine, e Kurt Kren, Robert Breer, Dore O, Isidore Isou, Antonio De Bernardi, Maurice Lemaitre, e Bruce Conner, e Klaus Wyborny, Boris Lehman, Bruce Elder, Taka Iimura, Abigail Child, Andrew Noren e muitos outros. Muitos outros ao redor do mundo. E eles pegaram suas Bolexs e suas pequenas 8 mm e Super 8 câmeras e começaram a filmar a beleza desse mundo, e as complexas aventuras do espírito humano, e eles estão se divertindo muito fazendo isso. E os filmes não trazem dinheiro nenhum e também não fazem nada de que se diga útil.

E todos os museus ao redor do planeta estão celebrando os 100 anos de aniversário do cinema, custando a eles os milhões de dólares que o cinema mesmo faz e tagarelando sobre seus Hollywoods e afins. Mas não há nenhuma menção aos vanguardistas ou aos cineastas independentes do nosso cinema.

Eu tenho visto os catálogos e as programações de museus e arquivos e cinematecas ao redor do mundo. Mas elas dizem, “nós não nos importamos com o seu cinema.” Nesses tempos de grandiosidade, espetáculo, produções milionárias, eu quero falar pelos pequenos e invisíveis atos do espírito humano: tão súbitos, tão pequenos, que eles morrem quando trazidos as luzes dos holofotes. Eu quero celebrar as pequenas formas de cinema: a forma lírica, o poema, a aquarela, o ensaio, a esquete, o retrato, o arabesco, as bagatelas e os pequenos sons em 8mm. Nesses tempos onde todos querem ser bem sucedidos e vender, eu quero celebrar aqueles que abraçam socialmente e cotidianamente o fracasso para perseguir o invisível, as coisas pessoais que não trazem dinheiro algum, nem pão e não fazem nenhuma história contemporânea, história da arte ou qualquer outro tipo de história. Eu estou para a arte que se faz um para o outro, como amigos.

Eu estou de pé no meio do furacão e rindo, porque uma borboleta em uma pequena flor em algum lugar da China acabou de bater suas asas, e eu sei que toda a história, cultura irão se transformar drasticamente por causa desse balanço. Uma câmera Super 8 acabou de chacoalhar em algum lugar da parte baixa de Nova Iorque e o mundo nunca mais será o mesmo.

A verdadeira história do cinema é uma história invisível: história de amigos se reunindo e fazendo aquilo que eles amam. Para nós, o cinema está começando a cada nova projeção, a cada nova chacoalhada de nossas câmeras. A cada chacoalhada de nossas câmeras, nossos corações saltam pra frente, meus amigos!

Jonas Mekas